A Educação Popular se constitui inicialmente no Brasil, como um movimento
libertário, trazendo uma perspectiva teórico-prática ancorada em princípios éticos
potencializadores das relações humanas forjadas no ato de educar, mediadas pela
solidariedade e pelo comprometimento com as classes populares.
O referencial político-pedagógico da Educação Popular começa a ser delineado e
consolidado na década de 1950, com raízes motivadoras ligadas à história de luta social,
de resistência dos setores populares da América Latina, conjugando várias concepções.
Como teoria do conhecimento no campo da educação, a Educação Popular foi
constituída a partir de sucessivas experiências entre intelectuais e as classes populares,
desencadeando iniciativas de alfabetização de jovens e adultos camponeses, nas décadas
de 1950 e 1960, quando grupos de educadores buscavam caminhos alternativos para o
modelo dominante de alfabetização. Estes grupos ansiavam constituir tecnologias
educativas capazes não apenas de ensinar as pessoas a lerem as palavras, mas sim
empreenderem uma visão crítica do mundo, para então construírem caminhos, com
autonomia e alteridade, na perspectiva da emancipação social, humana e material.
Buscavam inspiração no humanismo cristão e no pensamento socialista (Marx,
Gramsci, Lênin, dentre outros), compondo um quadro teórico orientador de diversas
metodologias educativas, as quais eram constantemente elaboradas, avaliadas e reelaboradas
em uma construção orientada pela práxis (Paludo, 2001).
No final da década de 50 e meados de 1960, destacou-se o trabalho do Serviço
de Extensão Cultural da recém criada Universidade de Recife, no qual professores como
Paulo Freire qualificaram a sistematização da Educação Popular e impulsionaram a
promoção de diversas experiências no campo da alfabetização e da cultura popular. A
partir da observação e análise construíram este processo pedagógico junto às populações
campesinas em uma perspectiva emancipatória. No final da década de 60 é publicada a
obra “Pedagogia do Oprimido” de Paulo Freire, embasada nessas experiências. As ações
de promoção da educação e da cultura popular, orientadas por esta nova perspectiva
educativa, objetivavam “transformar a cultura brasileira e, por meio dela, transformar a
ordem das relações de poder e a própria vida do país” (Fávero, 1983).
Segundo Vasconcelos e Oliveira (2009), com o Golpe Militar de 1964, os
movimentos sociais em especial da Educação Popular sofreu um grande impacto e
muitos dos intelectuais e políticos que compactuavam com sua ideologia foram
perseguidos, presos ou exilados. Apesar disso, a partir deste período, a Educação
Popular foi adquirindo sentido enquanto forma de resistência ao regime ditatorial,
inspirando o surgimento e o desenvolvimento de inúmeras experiências educativas, não
apenas no Brasil, mas, em toda América Latina. A articulação destas experiências
ocorreu de forma progressiva, concomitante à ampliação da participação dos
movimentos populares e de muitos grupos religiosos inspirados na linha renovadora
surgida em Medellín e na Teologia da Libertação.
O processo histórico da Educação Popular se constitui como elemento inspirador de
formas participativas, críticas e integrativas de pensar e fazer saúde, seus conhecimentos
técnicos, metodológicos e éticos são significativos para o processo atual de
implementação do SUS. Na área da saúde, movimentos e coletivos vêm promovendo
reflexões, construindo conhecimentos e ações num processo de diálogo entre serviços,
movimentos populares e espaços acadêmicos, para contribuir com a consolidação de um
projeto de sociedade e de saúde mais justo e equânime.
Considerando seu histórico de experiências, reflexões e conhecimentos, a Educação
Popular em Saúde apresenta-se como um caminho capaz de contribuir com
metodologias, tecnologias e saberes para a constituição de novos sentidos e práticas no
âmbito do SUS. Interage não apenas no que diz respeito à educação em saúde, mas,
sobretudo no delineamento de princípios éticos orientadores de novas posturas no
cuidado, na gestão, na formação e na participação social em saúde.
Entre os muitos exemplos das práticas populares de
cuidado e de seus atores podem ser citados raizeiros, benzedeiros, erveiros, curandeiros,
parteiras, práticas dos terreiros de matriz africana, indígenas dentre outros.
Fonte: Política Nacional de Educação Popular em Saúde
Nenhum comentário:
Postar um comentário