2 de abr. de 2012

Sustentáveis? Nunca serão!

FILED UNDER COISAS BY  (desajustado.org)

Certo… Por que falar sobre sustentabilidade DE NOVO?
Não querendo me aproveitar do modismo, mas acredito que esse assunto PRECISA estar em todas rodas de conversa muito mais do que o quão feio é o moicano do Neimar.
Se você também acha isso, comece a levar essas questões sem medo de pagar de chato (Ou “Ecochato” já que é assim que a Veja nos chama). Os problemas são de tal ordem que infelizmente não vai dar pra empurrar as consequências pra próxima geração. Os cientistas mais otimistas dizem que vamos ter impactos mais graves antes mesmo de 2020. A maioria de nós não vai ter nem 40 anos.
Fora isso, esse assunto está longe de ser passageiro, vem sido arrastado desde o ECO-92, lembra disso?
São quase 20 anos! Por que nada se resolveu?! Por que cada vez que tem uma reunião sobre isso (Estilo protocolo de Kyoto), nada é decidido?
E a resposta é simples. Toda vez que os líderes se reunem o assunto é o seguinte:
- Como podemos utilizar soluções sustentáveis SEM mexer na economia e no lucro corporativo?
Depois vem um longo silêncio constrangedor, suspiram e falam:
- É, não dá.
E cada um volta pro seu país.
E realmente não dá, pela própria idéia da sustentabilidade ter sido corrompida. E pra entender e brigar por isso, temos que ir lá nos fundamentos da coisa.
Sustentabilidade para Dummies
Pegando do significado básico: ” O termo “sustentável” provém do latim sustentare (sustentar; defender; favorecer, apoiar; conservar, cuidar). Segundo o Relatório de Brundtland (1987), o uso sustentável dos recursos naturais deve “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a possibilidade das gerações futuras de suprir as suas”.”
Até aí a idéia é legal e tem um toque de consciência. Porém, ao continuarmos lendo as definições, começam a aparecer uns elementos estranhos no meio:
Para que um empreendimento humano seja considerado sustentável, é preciso que seja:
- Ecologicamente correto
- Economicamente viável
- Socialmente justo
Alguns chamam esses pontos carinhosamente de “Pilares da Sustentabilidade.”
E a idéia é realmente legal. O que tem demais ser dono de um empreendimento que faz bem pro meio Ambiente, pras Pessoas, e ainda ganhar uma grana na história?
Beleza, achando a idéia legal resolvi dar uma olhada de como era na prática, e comecei a montar uma tabela.
Observação: Vamos entender por:
Ecologicamente Correto: Ter o Impacto ambiental mínimo possível
Socialmente Justo: Ser o máximo acessível a todos, independente de classe social ou poder aquisitivo
Economicamente Viável: Barato de fazer, e Lucrativo de se vender/distribuir
E assim, começou a me cair a ficha. Na verdade, aquele diagrama bonito que mostrei no começo não refletia o que acontece na realidade.
Aquele diagrama não é simétrico e os componente não tem importâncias iguais. Aparentemente, o “Economicamente Viável” é o fator mais determinante, pra não dizer quase sagrado.
Notem que qualquer perda é aceitável, desde que não seja econômica.
Quando o impacto ambiental é grande, dizemos que tudo tem impacto e a coisa é feita.
Se o impacto social é alto, dizemos que sacrificios devem ser feitos por TODOS, em nome do progresso.
Mas se mexer com a lucratividade, o negócio não é nem cogitado, nem precisa de justificativa, e ninguém pergunta por quê!
E sabe qual a grande ironia aí? Dos três componentes, o dinheiro é o único que é virtual, imaterial, artificial.
O diagrama real deveria ser assim:
E vem a pergunta… POR QUÊ?
Seu relacionamento com as corporações
Quando vamos falar de sustentabilidade, duas palavras usadas indiscriminadamente são “Sacrifício” e“Responsabilidade” sem explicar quem cuida de quê.Mas reparem o seguinte: Tanto o impacto ambiental quanto o social afeta a todos, mas a viabilidade Econômica afeta apenas o lucro privado.
Então, vivendo sob este mesmo planeta, sua relação com as corporações passa a ser a seguinte: “Quando tiver um grande impacto social e ambiental, a responsabilidade é de todos. Mas quando for lucrativo, o lucro é só meu.”
Justo, não? A responsabilidade é de todos, mas o lucro é particular.
Em resumo:
Quando permitimos algo de alto impacto ambiental, socialmente injusto, mas altamente lucrativo, quem se beneficia é uma minoria.
Quando permitimos algo de baixo impacto ambiental, socialmente justo, e pouco lucrativo, quem ganha é a maioria.
Entenda que você não precisa de muito lucro, muito dinheiro, se tudo for baratinho ou até de graça.
Tocando na polêmica atual: Quando você vê dizerem que a Belo Monte é boa pro Brasil Economicamente, é MENTIRA! É Economicamente bom SIM, mas não pro BRASIL. O Brasil possui 190 milhões de pessoas, e quem vai se beneficiar com isso são por volta de 5 mil familias. Só que se 5 mil familias ganham bilhões e o resto da população permanece na miséria, o PIB sobe igual. Se eu como duas maçãs e você não come nenhuma, na média a gente comeu uma cada um. PIB é isso aí.
E por que essa idéia totalmente injusta é que predomina?
Bom, basta olharmos as reuniões mundiais de novo. Quem está lá não são representantes do povo, são representantes das multinacionais. Quem desenhou o diagrama da sustentabilidade e decidiu que aquilo é legal, foram eles. Quem enfiou ali no meio o componente lucro, foram eles.
Vivemos em um mundo onde ser sustentável não é lucrativo. Logo, se o lucro vem antes de tudo, torna-se uma impossibilidade.
Como deveria ser o diagrama Sustentável?

O que isso quer dizer?
Ah, a tecnologia existe, o projeto existe, o impacto é mínimo, é socialmente aceitável, mas é muito caro. DANE-SE! É o melhor pra todo mundo, e é o que queremos.
Se as empresas vão lucrar menos, ou não vão lucrar, não é relevante.
As necessidades das pessoas tem que vir primeiro, e o lucro pode ser ou não uma consequência.
Onde quero chegar?
Não dá mais pra gente usar hoje, os modelos econômicos de décadas atrás. Adam Smith e John Nashviveram num mundo bem diferente de hoje (Aliás, especula-se que a lei de Oferta e Demanda praticamente não se aplica mais hoje. As empresas especulam o quanto acham que você pode pagar, e cobram aquilo). Os mercados não se auto-regulam e de fato, benefício social hoje depende quase que inteiramente de crises de consciência e epifanias de donos de multinacionais.
Nós não votamos nesses caras, eles não sabem quais são nossas necessidades, e ainda sim as decisões particulares deles nos afetam diretamente. É praticamente um tipo de Despotismo camuflado.
E torna-se  inviável vivermos em harmonia num mundo o qual o bem estar de uma maioria, depende da boa vontade de uma minoria.
Existe uma solução dentro desse modelo?
Uma solução meio que óbvia é termos regulamentações rígidas impostas pelo governo, forçando as corporações a serem mais sustentáveis.
O grande problema é que a gente está tentando fazer isso há mais de 30 anos. Está na hora de admitirmos que nosso modelo de governo (No Brasil e no mundo) não funciona! O modelo é precário, são impotentes diante das corporações, e são altamente suscetíveis à corrupção. Novamente, é um modelo que depende da boa-vontade de uma minoria de políticos querer “peitar” as multinacionais, sob risco de morte. Acredito que não vai acontecer através daí.
Já tentamos de tudo quanto é jeito, através de voto, de criação de partidos, de política, a mudar um pouco as regras do jogo, e não deu certo.
Não resta alternativa senão protestar, e com a seguinte consciência:
Ou você é a favor do ser humano e da sustentabilidade, ou você é a favor do lucro e do consumismo.
Aparentemente, conciliar os dois é uma impossibilidade lógica. Ou substituímos completamente o modelo atual, ou os mesmos problemas vão sempre voltar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário